Durante a implementação do Open Finance no mundo, Brasil se destaca pela agilidade e inovação.
O Brasil tem se destacado globalmente no cenário de Open Finance, adotando a tecnologia de maneira rápida. Desde sua implementação em 2021, o país tem integrado dados financeiros entre diferentes instituições e atualmente já acumula mais de 40 milhões de usuários individuais.
De maneira geral, o Open Finance está transformando o panorama financeiro global, e o Brasil vem se posicionando como referência em muitos aspectos dessa evolução.
O Open Finance no Brasil
O Open Finance é uma evolução do conceito de Open Banking, permitindo a ampliação do compartilhamento de dados financeiros entre diferentes instituições financeiras de forma segura e transparente.
O Banco Central do Brasil implementou o Open Finance em etapas, com a primeira fase iniciada em 2021. Atualmente, o sistema está na quarta e última fase, permitindo o compartilhamento de dados sobre seguros, câmbio, credenciamento em arranjos de pagamento, investimentos e previdência.
Entre os principais avanços brasileiros estão:
- Regulação robusta, centralizada pelo Banco Central do Brasil e operacionalizado através da Estrutura de Governança (Associação responsável pelo processo de implementação do Sistema Financeiro Aberto nos termos que rege a Resolução BCB nº 400/2024);
- Ampla cobertura do mercado, incluindo participação de grandes bancos e fintechs, abrangendo aproximadamente 95% dos clientes de todo sistema financeiro brasileiro;
- Integração com o PIX, sistema de pagamentos instantâneos.
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Indicadores de Transação de Pagamentos
Um dos destaques ao se falar da adoção da tecnologia é o crescimento dos Iniciadores de Transação de Pagamentos (ITPs), que, em 2025, já somam quase 50 instituições ativas. Esse aumento impulsiona a concorrência e fomenta novos modelos de negócio.
Os Iniciadores de Transação de Pagamento (ITPs) são entidades que facilitam pagamentos ao intermediar a conexão entre o usuário e sua instituição financeira ou de pagamento. Dessa forma, permitem a realização de transações sem que o usuário precise acessar diretamente sua conta.
Ao contrário de outras instituições de pagamento, os ITPs não realizam a movimentação de valores, apenas iniciam as transações com a devida autorização do cliente. É esse tipo de movimentação que possibilitou a adesão do PIx, em 2020, sendo sua transparência muito baseada no Open Finance.
Open Finance ainda engatinha entre as Pessoas Jurídicas
Todavia, se a adesão de pessoas físicas é uma realidade, com mais de 40 milhões de CPFs únicos adotantes da tecnologia, apenas cerca de 300 mil CNPJs no Brasil fizeram o mesmo. Isso representa cerca de 1% dos consentimentos únicos e 1,87% dos CNPJs ativos no Brasil.
Esse dado preocupa, pois a adoção ampla do Open Finance faz parte da agenda do Banco Central, que aposta na tecnologia como ferramenta da modernização financeira do país . Apesar disso, a adoção do Open Finance por pessoas jurídicas cresce drasticamente. Em 2024, o aumento de cadastros de CNPJs foi de 91%.
E o resto do mundo?
Tendo sido iniciada no Reino Unido, a tecnologia do Open Finance se encontra em diferentes estágios ao redor do mundo. Alguns países que se destacam na adoção da tecnologia são:
Reino Unido
O Reino Unido foi um dos primeiros países a implementar o Open Banking em 2018, servindo como referência global. O modelo britânico se concentra principalmente no compartilhamento de dados bancários e pagamentos, sendo mais restrito que o Open Finance brasileiro.
Apesar do avanço regulatório, a adesão pelos consumidores tem sido um desafio. Em 2022, o país registrou 7 milhões de usuários habilitados pelo Open Banking, sendo que a população do país soma 68 milhões.
Em abril de 2024, o governo britânico lançou uma força-tarefa liderada pela indústria para expandir o conceito de Open Banking, permitindo o compartilhamento seguro de uma gama mais ampla de dados financeiros. Essa iniciativa visa melhorar o acesso ao crédito para pequenas e médias empresas e identificar novos casos de uso para o Open Finance.
União Europeia
Em 2015, a União Europeia aprovou a Diretiva de Serviços de Pagamento 2 (PSD2), que revisa regras relativas ao serviço de pagamento da União Europeia. Essa diretiva impulsionou a implementação do Open Banking na Europa, mas com foco principal em pagamentos.
No entanto, apesar desses avanços, a transição completa para o Open Finance na UE enfrenta desafios jurídicos. Questões relacionadas à segurança de dados e a necessidade de uma maior colaboração entre instituições financeiras e fintechs são obstáculos que ainda precisam ser superados para uma implementação eficaz do Open Finance na região.
Essa realidade se reflete, especialmente, no trâmite jurídico da FIDA (sigla em inglês para Pacote de Acesso a Dados Financeiros e Pagamentos), complemento à lei de segurança de dados europeia.
Em junho de 2023, a Comissão Europeia publicou a FIDA, uma proposta legislativa para regulamentar o acesso e o uso dos dados dos clientes mantidos por instituições financeiras, estabelecendo direitos e obrigações claros para o compartilhamento desses dados no setor financeiro.
A FIDA começará a vigorar 24 meses após sua oficialização como lei, com exceção de algumas disposições, que terão validade a partir de 18 meses após a regulamentação ser sancionada.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o Open Finance tem avançado principalmente por meio de iniciativas lideradas pelo mercado, sem uma regulamentação centralizada como a existente na União Europeia ou no Reino Unido.
No entanto, em outubro de 2024, o Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) finalizou novas regras de “open banking” que permitem aos consumidores transferir seus dados bancários para diferentes instituições financeiras ou aplicativos de terceiros sem custos ou obstáculos.
Essas mudanças visam aumentar a concorrência entre os serviços financeiros ao facilitar o compartilhamento seguro de dados financeiros dos consumidores. Uma pesquisa da Visa de 2022 constatou que 87% dos consumidores nos EUA utilizam o Open Banking para vincular suas contas financeiras a serviços de terceiros. Isso reflete uma demanda crescente por serviços financeiros mais integrados e personalizados.
Ásia
Na ásia, a Índia tem se destacado na implementação do Open Finance, especialmente entre economias em desenvolvimento. Até março de 2024, aproximadamente 64 milhões de contas foram vinculadas através do ecossistema de Account Aggregators (AA), a versão indiana do Open Finance. Espera-se que a Índia lidere a adoção global do Open Finance, contribuindo com 47% dos usuários projetados até 2030.
Apesar dos avanços, a conscientização sobre os Account Aggregators ainda é limitada. Uma pesquisa do CGAP (uma parceria global de mais de 35 organizações que trabalha pela inclusão financeira), em 2024, revelou que apenas 12% dos usuários de smartphones estavam familiarizados com o conceito ou termo “Account Aggregators”.
Em Hong Kong, a criação de uma estrutura para APIs teve início em 2018 com a publicação do “Open API Framework” voltado ao setor bancário. Já em 2021, esse framework incorporou funcionalidades para acesso a informações de contas, incluindo saldo, extratos e ajustes de limite de crédito, além de operações transacionais, como pagamentos e transferências. Desde então, essas funcionalidades vêm sendo gradualmente adotadas pelas instituições financeiras participantes.
Em Singapura, o Open Banking tem sido impulsionado principalmente por iniciativas lideradas pelo mercado, com o apoio do regulador local, a Autoridade Monetária de Singapura (MAS). Embora não haja uma obrigatoriedade regulatória para a implementação do Open Banking, a MAS tem desempenhado um papel fundamental ao promover padrões de compartilhamento de informações e incentivar a colaboração entre instituições financeiras e fintechs.
Em Singapura, esse compartilhamento é viabilizado pelo Singapore Financial Data Exchange (SGFinDex), lançado no final de 2020. Essa infraestrutura foi a primeira no mundo a utilizar uma identidade digital nacional, o Singpass, para acessar e compartilhar dados financeiros pessoais, incluindo saldos de depósitos, cartões de crédito, empréstimos, apólices de seguro e investimentos
Uma pesquisa do Finastra, empresa de softwares financeiros, indicou que cerca de 99% dos entrevistados em Singapura consideram a adoção do Open Banking como “obrigatória” ou “importante”, enquanto em Hong Kong, esse número foi de 94%.
Na China, o Open Banking tem se desenvolvido rapidamente desde 2018, impulsionado principalmente por iniciativas de grandes bancos estatais e privados, bem como por empresas de tecnologia financeira. Embora não exista uma regulamentação específica para o Open Banking no país, a prática de compartilhamento de dados financeiros entre instituições tem sido amplamente adotada.
O modelo chinês de Open Banking é caracterizado por colaborações entre bancos tradicionais e empresas de tecnologia, facilitadas por APIs abertas que permitem a integração de serviços financeiros em diversas plataformas. Isso resultou em uma integração mais profunda entre serviços financeiros e cenários de vida cotidiana, como comércio eletrônico e plataformas de pagamento digital.
América Latina
O México foi pioneiro na América Lationa a implementar o Open Finance. A Lei para Regular as Instituições de Tecnologia Financeira, conhecida como Lei Fintech, foi promulgada em 2018, estabelecendo as bases para o compartilhamento de dados financeiros por meio de APIs.
Em 2020, a Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV) publicou regras abrangentes para APIs, e a implementação do Open Finance está sendo realizada em fases, com foco na inclusão financeira e na padronização dos processos de troca de dados.
Na Argentina, o Open Banking está em fase de desenvolvimento, com o Banco Central da República Argentina (BCRA) implementando medidas para incentivar pagamentos digitais e promover a interoperabilidade. Embora ainda não haja uma regulamentação específica para Open Banking no país, o BCRA tem promovido a interoperabilidade e a digitalização dos pagamentos, estabelecendo as bases para uma possível implementação futura de um sistema de Open Banking no país.
Em termos de adoção pelo mercado, uma pesquisa da Câmara Argentina de Fintech revelou que 70% das empresas de serviços financeiros baseadas em tecnologia no país estão abertas a implementar Open Banking ou finanças integradas. Além disso, 47,5% das fintechs argentinas já incorporaram características de Open Finance e APIs em seus processos, indicando um movimento crescente em direção à integração e compartilhamento de dados financeiros.
Brasil na Liderança Global do Open Finance
Apesar de ter sido lançado apenas em 2022, o Open Finance no Brasil já se destaca mundialmente. De acordo com Helen Child, pesquisadora e cofundadora do Open Banking Excellence, o Brasil é um dos líderes globais na adoção dessa tecnologia, conforme apontado pelo Global Open Finance Index, que avalia o nível de desenvolvimento do Open Finance em 27 países.
Durante sua participação no Febraban Tech 2023, Child ressaltou que o Brasil tem se destacado pela inovação e pela rápida implementação do Open Finance. Segundo ela, o Banco Central brasileiro é visto como um regulador ágil e inovador, sendo referência para outros países.
Além disso, a sinergia entre reguladores e o mercado tem sido um diferencial, permitindo um desenvolvimento acelerado e sustentável do sistema.
Outro fator apontado pela pesquisadora como essencial para esse sucesso foi a adoção massiva do Pix, que forneceu uma base de usuários ampla e impulsionou o Open Finance no país. Com uma estrutura bem estabelecida, o Brasil tem conseguido avançar em casos de uso mais complexos, criando soluções inovadoras para o mercado financeiro.
Com essas iniciativas, o Open Finance continua sua trajetória de expansão e consolidação, promovendo inovação e inclusão financeira no Brasil.
Conclusão
Em conclusão, o Brasil se destaca como um dos líderes globais no Open Finance, com uma implementação sólida e regulamentação eficiente pelo Banco Central, ainda que muito centrada nas Pessoas Físicas. A integração com o PIX e a adesão obrigatória para grandes instituições financeiras são avanços importantes.
Globalmente, países como Reino Unido, União Europeia, Índia e China também estão adotando o Open Finance. O movimento global demonstra que o Open Finance é uma tendência crescente, promovendo inovação e inclusão financeira mundialmente.